25 de mai. de 2009

José

E agora, José? A festa acabou,

a luz apagou,o povo sumiu,

a noite esfriou,e agora, José?

e agora, Você? Você que é sem nome,

que zomba dos outros,Você que faz versos,

que ama, protesta? e agora, José?

Está sem mulher,está sem discurso,

está sem carinho, já não pode beber,

já não pode fumar, cuspir já não pode,

a noite esfriou,o dia não veio,

o bonde não veio, o riso não veio,

não veio a utopiae tudo acabou

e tudo fugiu e tudo mofou,

e agora, José? E agora, José?

sua doce palavra, seu instante de febre,

sua gula e jejum, sua biblioteca,

sua lavra de ouro, seu terno de vidro,

sua incoerência, seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão quer abrir a porta,

não existe porta;quer morrer no mar,

mas o mar secou;quer ir para Minas,

Minas não há mais.José, e agora?

Se você gritasse,

se você gemesse,se você tocasse,

a valsa vienense,se você dormisse,

se você cansasse,se você morresse....

Mas você não morre,você é duro, José!

Sozinho no escuro qual bicho-do-mato,

sem teogonia,sem parede nua

para se encostar,sem cavalo preto

que fuja do galope,você marcha, José!

José, para onde?